Fala galera, beleza? Gostaria de trazer uma pequena reflexão sobre a maturidade do brasileiro em relação ao carregamento de veículo elétrico. Para começarmos, gostaria de trazer uma imagem que me inspirou.
Para contextualizar, a foto acima é de um bebedouro com duas partes, a mais alta para seres humanos e a mais baixa para pets. O bebedouro está instalado na área externa de um Posto Ipiranga, ao lado de um banco no estacionamento do posto.
Obviamente, que quem usou o bebedouro como cinzeiro não se atentou ao fato de haver uma placa de orientação no local, quanto menos ter lido a placa. Agora entra a relação com a mobilidade elétrica brasileira.
Diferente de muitos países, o Brasil não possui hábito de Self-Service na hora do abastecimento. Abastecer no Brasil se limita a escolher o combustível, a quantidade e fazer o pagamento. Apesar de carregar um veículo ser um procedimento simples de apenas plugar o cabo e iniciar a carga, o fato de precisar se servir de um serviço é uma etapa pouco usual para a maioria dos motoristas brasileiros.
De repente, uma pessoa que estava habituada a encostar e ser servido, precisa lidar com tecnologia nova e que dependerá do usuário ainda ter uma noção básica do uso de diversos aplicativos diferentes apenas para iniciar a sua carga. Pode parecer algo insignificante para muitas pessoas, mas some a isso ao fato de que o brasileiro não tem o hábito de ler.
Não pense que estou criticando o país em que nasci, trata-se de uma verdade conhecida por todos. Em 2016, foi divulgado pela Market Research World que o país com o maior tempo de leitura era a Índia, com uma média de 10 horas e 42 minutos de leitura por semana, enquanto o Brasil estava em 27º lugar com a metade do tempo. Não quero nem imaginar como estamos agora com o advento dos streamming.
Foram inúmeras as vezes que dei suporte para usuários de forma remota ou mesmo me deparei pessoalmente com pessoas que não sabiam iniciar a sessão de carregamento ainda que as orientações estivessem bem diante dos seus olhos. Sem contar que tratam-se de situações que podem ser chamadas de "Caminho Feliz", quando tudo dá certo. Se houver alguma alteração no funcionamento, que pode ser tanto no aplicativo, no carregador, no veículo e até mesmo no celular do usuário, a experiência chega a ser uma Via Crucis se não for lidada de forma clara pelo suporte ao usuário.
Independente do serviço prestado e seu público alvo, o mínimo que se espera de um produto que se baseie no autoatendimento é que as informações possuam três elementos básicos:
Informação de forma clara
Frases muito longas desestimulam a leitura da informação completa e exigem que haja uma interpretação do usuário, sem contar que aumenta a probabilidade de erros de concordância e pontuação. A melhor forma de comunicar uma instrução é através de comandos diretos e limitados, como: Baixe o App; Plugue o Carro; Leia o QR Code.
Acessível
Quando estamos lidando com algo novo, a tendência é nos focarmos no alvo, que neste caso é o carregador. Se a intenção é que a informação seja vista, essa informação precisa estar no campo do foco. Não adianta colocar luminosos com animação ao lado do carregador, pois não será o foco de visão do usuário.
Pode até ser que ele olhe mais tarde para o lado, mas isso será depois que sua missão foi cumprida. E se o usuário tiver dificuldade em executar determinada ação, seu foco será mais fechado, tornando as informações ao seu redor cada vez menos perceptíveis.
Mas não adianta colocar a informação acima ou abaixo, pois o campo de visão estará no centro, bem no centro. Em geral, o campo de visão será direcionado para alguma tela no carregador. Esse é o ponto ideal para colocar qualquer tipo de instrução de operação. Voltando ao exemplo da imagem, a posição que foi colocado o comunicado está mais para o ângulo de visão do pet que para os seres humanos, logo, dificilmente a comunicação atingirá o público alvo.
Evite confusões
Sejamos justo, o bebedouro feito de alumínio, no formato de um cinzeiro, posicionado ao lado de um banco que as pessoas usam em lugar para fumar só poderia induzir ao erro.
Não podemos imaginar que o alvo de uma comunicação deva ser apenas o nosso cliente final. Todas as pessoas que circulam o local devem ter a clara mensagem sobre do que se trata o equipamento e oque também não deve ser feito, como NÃO ESTACIONAR NA VAGA SE NÃO FOR CARREGAR O VEÍCULO.
Para concluir, gostaria de trazer um desafio: imagine que você não saiba nada sobre carros elétricos ou sobre estações de carregamento, como seria a forma óbvia de receber essa?
Melhor, digamos que você precise pousar um avião (e você não é um piloto):
Para que lado você olharia em busca de instruções?
Como buscaria essa informação?
Qual seria forma mais prática de executar os comandos?
E se o manual não for suficiente, como entrar em contato com alguém que possa ajudar?
Seria melhor que alguém já soubesse do problema e se colocasse à disposição para ajudar, não é? Lembre-se, o procedimento precisa ser executado o mais rápido possível. Obviamente o procedimento será cada vez mais comum no dia a dia, mas levará tempo e sempre terá uma pessoa que ainda não sabe como lidar.
Espero ter colaborado com as empresas de serviços de carregamento com as minhas reflexões e que o usuário seja favorecido com as ideias que possam surgir.
Até mais.
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