Fala galera, beleza? O texto dessa vez será um tanto quanto polêmico, mas considero de imensa importância a discussão sobre o assunto. Afinal, só podemos melhorar as coisas que não assumimos serem perfeitas. Então, começo com uma pergunta para reflexão: Qual é a dose certa para a garantia do veículo elétrico?
Posso dizer que a maior aflição das pessoas ao avaliarem a compra de um veículo 100% elétrico é vida útil da bateria. Não considero injustificável, afinal é o componente mais caro e importante em um veículo elétrico.
Por conta disso, também o item que apresenta, juntamente com o motor, o maior período de garantia, podendo variar de 5 a 8 anos. Essa garantia seria mais que suficiente para a maioria dos consumidores, visto que boa parte das pessoas que compram um carro zero, acabam trocando de carro bem antes disso.
Entretanto, quero discutir 3 polêmicas para possa haver uma reflexão e, quem sabe, melhorias em relação ao direito do consumidor.
Tempo x quilometragem
Quando eu comprei meu primeiro carro em 2007 (bem longe de ser um carro zero), nem fazia ideia o que era ter uma veículo com garantia de fábrica, no máximo a garantia legal de 90 dias. Não era uma coisa que me preocupou na época. Só consegui comprar meu primeiro carro dentro da garantia (nem era 0 km) em 2012. Mas só estava na garantia por que a montadora oferecia 6 anos de garantia. Para ser justo, preciso dizer que era um JAC Motors J3.
Nesta época, eram poucas as marcas que concediam garantia de fábrica além de 1 ano e pouco influenciava na compra. As garantias maiores apenas justificavam a compra de um veículo que ainda carecia de confiança no mercado ou marcas premium que apresentavam outra proposta de relacionamento com o consumidor.
Quando falamos de carro elétrico, parece que a lógica é semelhante, as fabricantes dão uma garantia maior sobre o sistema de tração e bateria. Ora, se a bateria tem uma estimativa de vida útil de 15, 20 e até 25 anos, o que seria uma garantia de 8 anos? Aliás, ouso dizer que a lógica adotada de uma garantia maior para a bateria, remete a possibilidade da bateria durar mais que o restante do carro.
Entretanto, é importante ressaltar que temos dois limites de garantia: Tempo ou quilometragem, o que acontecer primeiro. No caso de quilometragem, você pode ter variação entre 100.000 e 200.000 km rodados nos veículos elétricos atualmente comercializados no Brasil. Para maioria dos consumidores, essa quilometragem é mais que suficiente. Com a média brasileira de 10.000 km rodados em um ano, 100.000 km seria inatingível neste período de tempo.
A verdade é que você começa a pegar gosto por dirigir um carro elétrico e quer dirigir cada vez mais. Posso dizer por mim. Diferentemente do que as pessoas pensam, eu rodo muito mais com meu carro elétrico do que já rodei com qualquer outro carro à combustão. Sendo assim, aumenta a chance de atingir o fim da garantia por quilometragem antes do prazo.
Aí fica a pergunta: Se a expectativa que uma bateria possa rodar até 1 milhão de quilômetros, por que a garantia vai até, no máximo, 20% dessa expectativa? Se fizéssemos um paralelo com o tempo, diria que a quilometragem de garantida deveria ser por volta de 300.000 km ou até mais.
Uso severo
Entende-se como uso severo praticamente qualquer coisa que fuja de rotina esperada como saudável pela fabricante. Para explicar melhor, deixarei o link de um vídeo que considero muito didático a respeito do assunto.
Em resumo, se você coloca o carro em terrenos ou ambientes inapropriados para seu objetivo (off-road), usa de forma estressante por um período maior que 50% do tempo ou uso comercial, esses são fatores que podem ser considerados uso severo pelos fabricantes.
Muitos vendem o carro elétrico com a solução mais econômica para os profissionais que rodam muito, como taxistas, motoristas de aplicativo e entregadores. Todavia, não ouvimos na mesma intensidade que, se o veículo for usado da forma que exatamente com este propósito, não estará dentro das condições que se garante ser ideal.
Se a minha frase acima não faz muito sentido, é porque a redução da garantia por uso comercial também não faz (de acordo com o discurso das marcas). Venha, compre seu carro para trabalhar, mas não garanto que continuará funcionando igual porque não sei se suportará seu ritmo de trabalho.
Não estou falando de peças de desgaste natural, pois essas peças, sim, imagina-se uma fadiga acelerada com uso intenso. A verdade é que a limitação de garantia para veículos de uso comercial sempre existiu, inclusive para os veículos à combustão e ninguém questionava. Entretanto, se você sugere que poderá usar para determinada atividade é porque você garante que o carro suporta a carga de trabalho.
Uso comercial
Eu sempre fui um grande defensor da adoção do veículo elétrico para o trabalho, tanto de entrega quanto para o transporte de passageiros, por diversos fatores como: custo de manutenção, menor quantidade de peças de desgaste natural, conforto para condução por várias horas e menor tempo necessário para revisão.
Todavia, a maioria dos profissionais estão atingindo a quilometragem máxima da garantia em pouco mais de 1 ano, quando o esperado pelas montadoras é, no mínimo, 5 anos até os primeiros 100.000 km. A questão é: como fica a confiança de uma pessoa que precisa do carro para trabalhar? Não digo que o carro precisa ter uma garantia extensa, mas a bateria merece.
Recentemente, um colega que trabalha como motorista de aplicativo precisou recorrer a uma assistência técnica externa porque seu carro já estava com mais de 130.000 km e começou apresentar sintomas atípicos, como perda de potência com nível de bateria acima de 30%. Tudo indica que há uma falha em alguma célula da bateria. Entretanto, a assistência técnica está cobrando uma boa quantia apenas para diagnóstico. Nem digo que o preço é justo ou não, afinal será dedicada muitas horas.
Inclusive vejo muitos clientes ansiosos para saírem da garantia, mas para onde ir enquanto são poucos os locais preparados para trabalhar com baterias de veículos elétricos? Já existem cursos que promovem a formação destes profissionais, porém ainda é escassa a quantidade de oficinas disponíveis. Teria alguma responsabilidade a montadora fora do período de garantia em fomentar essas oficinas? Afinal, muitos carros exigem equipamentos e softwares proprietários para diagnóstico.
Conclusão
Em resumo, se as montadoras e fabricantes confiam tanto no seu produto, qual a dificuldade de ampliar a garantia conforme a expectativa de vida esperada?
Não digo que a garantia precisa ser por toda a vida útil ou ter a responsabilidade por qualquer coisa que aconteça com o veículo, mas a bateria merece uma atenção especial para promover uma confiança maior do consumidor e garantir o atendimento dos casos que surgirem fora da garantia, sendo por vício oculto ou não.
O código de Defesa do consumidor prevê a oferta de peças de reposição para bens duráveis por 10 anos após o fim da produção do produto. Agora falta garantir o serviço de assistência técnica.
Até mais
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